quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Testemulho

Um dia destes, no meu novo posto de trabalho, sugeriram-me que fosse falar com a directora pedagógica para ver se ela me dava umas ideias para o plano de marketing. Afinal, ela está em contacto com todos os assessores de cada curso da escola, que certamente lhe transmitem o feedback dos alunos (os "clientes" da escola, em última instância).

Lá fui ao gabinete dela tentar ter um diálogo produtivo. Ela foi muito mal-educada. Atendeu o telefone uma data de vezes e deixou entrar pessoas no gabinete outras tantas, durante a entrevista, sem sequer pedir licença.

Entrou um miúdo que tinha precisado de apanhar um táxi por causa de um acidente que tinha tido. Ela contou o troco à frente do puto e disse-lhe que ia mandar a conta à mãe dele, com uma frieza e uma antipatia como eu nunca vi.

Além disto, enquanto eu lhe fazia perguntas e tentava obter as suas sugestões e opiniões pessoais, as respostas que ouvia centravam-se nisto:
- Não sei.
- Isso não lhe posso dizer.
- Não me compete a mim...
- Eu estou aqui muito limitada a esta gabinete... Gostava de a ajudar, mas não posso.
- Não é a minha área.

Depois começou a chorar-se sobre a falta de capacidades logísticas da escola, a falta de meios para fazer isto ou aquilo, enfim... Que pessoa tão negativa!


Onde é que eu quero chegar com isto tudo?


Meus amigos, ai de mim se responder a alguém "não é a minha área", que por acaso era a resposta que devia ter dado aquando deste pedido. Sim, porque os trabalhadores hoje em dia têm de ser flexíveis! Senão, não há lugar para eles!

Se eu chamar a atenção para algo que está mal, sou uma negativista que apenas se centra nos problemas em vez de procurar soluções, e por isso não sirvo para a empresa.

Portanto, o que realmente me deixa fodida é que esta incompetente, esta frustrada cheia de falta de sexo, é antipática, mal-educada, não se mete em nenhum assunto que não tenha a ver com a área dela, mas ganha mais do dobro que eu por mês... Será por ter uns 40 anos? Eu nunca achei que a idade fosse documento, mas incompetente como é, tem de haver outra razão que justifique uma diferença tão grande.

E os jovens continuam a ser os mais produtivos, os que lutam por aquilo em que acreditam, os que mais trabalham, os que mais contribuem, e os que menos se negam a fazer o que quer que seja. E os que ganham menos...
- Porque "não têm experiência", mesmo que trabalhem há 5 anos...
- Porque são considerados "pouco flexíveis" e por isso não merecem ser aumentados...
- Simplesmente porque são jovens, e os seus contratos nem são renovados sequer.

O saco vai enchendo... Até quando?

Os resultados da sondagem...
http://6thnonsense.blogspot.com/

Testemulho - parte 1

Para quem ainda não sabe, informo que tive uma magnífica alteração profissional. Comunicaram-me numa quarta-feira que na segunda seguinte teria de ir trabalhar para outra organização, dos mesmos proprietários. Era isso ou perder o meu lugar daqui a uns meses.
O argumento para tanto "fogo no cu" (leia-se: tanta pressa) era não haver trabalho suficiente para mim na empresa onde estava, e por outro lado haver muito trabalho (e de execução urgentíssima) na outra organização, por sinal uma escola profissional.
É verdade que já estava farta de estar no outro sítio, mas também é verdade que comecei logo a "panicar" por saber que me iam mandar para um gabinete minúsculo, onde está sempre a entrar gente, e onde de hora a hora se ouvem os miúdos nos intervalos aos berros. Eu estava habituada a um sítio super silencioso e a estar sozinha. Lindo!

Bem, cheguei lá na segunda-feira com as minhas coisinhas e comecei a instalar-me. Por volta das 12h chamaram-me para uma reunião.

Entrei na reunião, muito convencida que iam falar comigo sobre o trabalho a executar (um plano de marketing para a escola). Estava lá um dos donos e a directora pedagógica.
Patrão: - Então, Dr.ª? Pronta para começar o plano de marketing? Quanto tempo demorará, mais ou menos?
Eu: - Se for bem feito, detalhado, com orçamentação, demorará cerca de um mês. [Pensamento: nós já tivemos esta conversa.... Onde é que quer chegar?]
Patrão: - Pois... Nós precisávamos da ajuda da Dr.ª noutra coisa que não tem nada a ver com a sua área.
Eu: - ... Se eu puder ajudar...
Patrão: - Este assunto é hiper confidencial... Ninguém pode saber, não pode comentar com ninguém...
Eu: - ... [Pensamento: Podes contar, Jojó! Não vou por no blog nem nada!]
Patrão: - Sabe, nós sabemos que há aqui uns alunos a consumir droga à volta da escola...
Eu: - ???
Patrão: - E sabemos que há outro a vender...
Eu: - !!!
Patrão: - E queríamos que se "infiltrasse" no meio deles e que tentasse confirmar as nossas suspeitas... Porque ninguém a conhece e a Dr.ª confunde-se facilmente com uma aluna...
Directora pedagógica: - Pois, perfeitamente!
Patrão: - Isto é um elogio!
Eu: - ...
Patrão: - Fuma?
Eu: - Não. [Pensamento: porquê? Queres que vá dar umas passas com eles?]
Patrão: - Então saia antes dos intervalos para falar ao telemóvel ou para tomar café. Vá lá fora passear a ver se os apanha em flagrante. Não faça NADA esta semana!

Pelos vistos era este o trabalho urgentíssimo que queriam que eu fizesse.